terça-feira, 14 de junho de 2016

Hospital de Clínicas de Uberlândia fecha portas a novos atendimentos

Diretor-geral do HC-UFU Hélio Lopes da Silveira (Foto: Caroline Aleixo/G1)


A informação foi dada durante coletiva de imprensa na manhã desta segunda-feira (13) e é a primeira vez, no conhecimento da atual diretoria, que o hospital passa por uma crise tão grave a ponto de restringir os atendimentos de forma ampla.
O HC-UFU é referência de urgência e emergência para 16 municípios do Triângulo Mineiro e abrange população indireta de mais de dois milhões de pessoas. De acordo com o diretor-geral, Hélio Lopes da Silveira, a situação é muito grave. “São quase R$ 16 milhões que temos para receber das três esferas e nós não queremos nada além do que já é devido. Hoje o hospital vive uma situação de muita gravidade com o desabastecimento de uma forma em geral. Faltam medicamentos, insumo e equipamentos precisando de manutenção”, disse.
Um comunicado foi emitido aos funcionários do hospital por parte da diretoria esclarecendo a medida. No manifesto, a diretoria aponta nove itens como garantia da conclusão do tratamento de pacientes internados, regularização de repasses, realização de mudanças internas para gerir melhor os recursos, referenciamento do pronto-socorro, redução de serviços deficitários e rediscussão do Sistema de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Hoje o hospital vive uma situação de muita gravidade com o desabastecimento de uma forma em geral. Faltam medicamentos, insumos e equipamentos precisando de manutenção".
Hélio Lopes, diretor-geral
Lopes esclareceu que, em 2011, o hospital recebeu volume de R$ 155 milhões para custeio e deveria receber cerca de R$ 210 milhões no ano passado para manter o mesmo nível de financiamento, considerando a inflação nos últimos anos. Contudo, a unidade teve R$ 135 milhões.
Entre os serviços de maior déficit ao hospital estão o pronto-socorro, que gera déficit médio de R$ 1,5 milhão ao mês, além dos 57 leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) com déficit diário de quase R$ 1.500. “Do ponto de vista sociológico eu não teria como tomar medida para fechar leito de UTI pelo qual a cidade é extremamente carente. Então estamos restringindo o recebimento de doentes no pronto-socorro e todas as internações, o que vai ter um impacto nessas despesas”, considerou o diretor.
Atualmente, 60% dos leitos de UTI estão ocupados e as ações anunciadas em caráter de emergência visam o término do tratamento desses pacientes internados. Casos de extrema urgência serão avaliados para necessidade de exceção no atendimento.
Diretoria do HC-UFU em Uberlândia (Foto: Caroline Aleixo/G1)Diretoria do HC-UFU concedeu coletiva de imprensa para falar que medidas sobre restrição de atendimentos são para assegurar pacientes já internados e os funcionários (Foto: Caroline Aleixo/G1)
Impactos internos
Outro agravante na situação do hospital é a falta de medicamentos, insumos e recursos para manutenção de equipamentos. O Hospital tem para receber cerca de R$ 4 milhões do Estado e Município, R$ 10 milhões do programa Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, e R$ 2 milhões referente à unidade coronariana. As dívidas com os fornecedores e setor financeiro giram em torno de R$ 50 milhões.
G1 entrou em contato com a Prefeitura de Uberlândia que em nota informou que está em dia com os pagamentos do contrato de gestão entre o Município e o HC-UFU e por isso tomará as medidas judiciais cabíveis para que o compromisso seja cumprido. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que começa a operar no final de junho na cidade, não mudará a rotina de atendimento do pronto-socorro do hospital, considerando o contrato vigente.
A União, por meio do Ministério da Saúde, esclareceu que os repasses para a Universidade Federal de Uberlândia cresceram 44,7% entre 2010 e 2015, alcançando R$ 116,5 milhões no ano passado. Em 2016, já foram liberados R$ 18,7 milhões. Para este mês, está previsto o repasse de mais de R$ 9 milhões para os procedimentos de média e alta complexidade realizados no hospital, por meio do Teto de Média e Alta Complexidade (MAC) e incentivos. A data para a transferência não foi informada.

A prioridade da gestão do Ministério da Saúde é buscar, junto à atual equipe econômica, a recomposição do orçamento de 2016 da pasta, de forma a honrar os compromissos assumidos e garantir a totalidade dos recursos previstos para o SUS este ano. Foram contingenciados R$ 5,5 bilhões.
A diretoria ressaltou que, sem os recursos, faltam 190 itens de medicamento e o estoque que é mantido só consegue suprir no máximo dez dias de atendimento. A verba suplementar de R$ 1,5 milhão que está disponível desde dezembro de 2015 e até hoje não foi repassada totalmente pelo Município auxiliaria na compra desses medicamentos. “Chegou apenas uma parte da verba. A gente sabe que ela entrou na conta da Prefeitura no dia 26 de dezembro e houve todo esse atraso. Não tivemos nenhuma informação do porquê”, acrescentou Hélio.
HC-UFU Uberlândia (Foto: Divulgação/HC-UFU)Dívidas da instituição ultrapassam R$ 50 milhões (Foto: Divulgação/HC-UFU)
Com o fechamento do hospital para novos pacientes em alguns setores, até 70% das cirurgias devem ser canceladas, sendo priorizadas aquelas dos pacientes que já estão no hospital. Porém, há casos em que o procedimento está suspenso por falta de insumos. A residência também ficará comprometida.
O diretor-clínico Paulo Sérgio de Freitas reforçou o apelo à população em procurar outros pontos de atendimento. “Grande parte das demandas que surgem no pronto-atendimento e pronto-socorro deveria ser feita na atenção primária. Nosso apelo é para que a população e entidades que trabalham nesse setor comecem a entender que somos um prestador de serviço que passa dificuldade e precisamos priorizar o atendimento do paciente que está internado”, disse.

As medidas seguem por tempo indeterminado até que os repasses sejam regularizados.
Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia (Foto: MPF/Reprodução)Estado informou que não efetuou o repasse devido a
problemas com alvará sanitário
(Foto: MPF/Reprodução)
Repasse do Estado
Em nota, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), por meio da Superintendência Regional de Saúde de Uberlândia (SRS-UDI), informou que não existem atrasos de repasses estaduais por meio do Programa de Fortalecimento e Melhoria da Qualidade dos Hospitais SUS/MG (Pro-Hosp) para o HC-UFU.
O recurso referente ao primeiro quadrimestre de 2016 do Pro-Hosp, na ordem de R$ 2 milhões, está com o pagamento pendente pela não apresentação do alvará sanitário atualizado e vigente, sendo esta uma condição para o recebimento do incentivo financeiro, conforme Resolução SES/MG nº 5184/2016.
De acordo com a SRS, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais orientou no dia 10 de junho que a Vigilância Sanitária da Secretaria Municipal de Saúde de Uberlândia, em conjunto com a Vigilância Sanitária da SRS Uberlândia, elabore documento equivalente para prorrogar o alvará sanitária do HC-UFU, que terá até agosto para regularizar sua situação.
A não regularização implicará em bloqueio da parcela de agosto do Pro-Hosp. Assim que o documento for finalizado e entregue à SRS Uberlândia, será imediatamente encaminhado ao Nível Central da SES-MG para liberação do recurso.
O HC-UFU e a Secretaria de Saúde de Uberlândia informaram ao G1 que a questão do alvará foi resolvida e que o documento foi prorrogado até dia 31 de agosto.

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