O caso revoltou profissionais que trabalham com a conservação da onça, que questionam a necessidade de usar os felinos para entretenimento. "É inadmissível que um acidente como esse ainda ocorra", diz Cristina Harumi Adania, coordenadora de fauna da Associação Mata Ciliar. "Não é a primeira vez que acontecem incidentes com animais. Justifica-se manter animais para participar de eventos?"
A Associação Mata Ciliar abriga mais de 700 animais com o objetivo de tratar, reabilitar e, dependendo do caso, devolver o animal à natureza, incluindo felinos. Uma campanha da associação, em parceria com a ONG Ampara Animal, está pedindo ajuda para devolver as onças à natureza. São 16 onças. Algumas delas eram até mesmo do Exército. A associação acolheu duas onças a pedido do Ibama, uma no final de 2013 e a outra em 2014, que vieram do Exército do Pará e de Roraima, respectivamente. "Já há conscientização de alguns batalhões de seguir a recomendação de que animais não devem ser expostos. Imagina um animal da floresta que de repente está no meio de um evento, de muito barulho, estresse. Claro que isso poderia acontecer", diz Cristina.
As onças chegam ao Exército em operações contra tráfico de animais ou em casos de acolhimento de filhotes, quando as mães são mortas por caçadores, por exemplo. Como o animal é símbolo do Exército, é comum que alguns indivíduos sejam adotados como mascotes – mesmo sendo considerado impossível domesticar a espécie.
No Brasil, o estado de conservação varia conforme o bioma. Na Amazônia, a onça é considerada como Vulnerável. A pior situação ocorre na Mata Atlântica e na Caatinga, onde ela é identificada como Criticamente em Perigo – a última classificação de risco antes da extinção.
Em nota, o Exército explica o incidente. "O procedimento de captura foi realizado com disparo de tranquilizantes. O animal, mesmo atingido, deslocou-se na direção de um militar que estava no local. Como procedimento de segurança, visando a proteger a integridade física do militar e da equipe de tratadores, foi realizado um tiro de pistola no animal, que veio a falecer". A nota, do Comando Militar da Amazônia, diz que um processo administrativo vai apurar o caso.
O Comitê Olímpico, em comunicado, assumiu o erro e disse que o caso contraria os princípios das Olimpíadas. "Erramos ao permitir que a Tocha Olímpica, símbolo da paz e da união entre os povos, fosse exibida ao lado de um animal selvagem acorrentado. Essa cena contraria nossas crenças e valores. Estamos muito tristes com o desfecho que se deu após a passagem da tocha. Garantimos que não veremos mais situações assim nos Jogos Rio 2016."
Nenhum comentário:
Postar um comentário